VÍGILIA PASCAL na RESSURREIÇÃO DO SENHOR
O LUTO DE MARIA E DOS APÓSTOLOS E A PROVAÇÃO DE MADALENA
Et vidit duos angelos in albis, sedentes, unum ad
caput et unum ad pedes, ubi positum fuerat corpus Jesu. Dicunt ei illi:
Mulier, quid pioras? Dicit eis:
Quia tulerunt Dominum meum et nescio ubi posuerunt eum (Jo 20,12-13).
E viu dois anjos vestidos de branco, sentados, um à
cabeceira e outro aos pés, onde jazera o corpo de Jesus. Disseram-lhe
eles: Mulher, porque choras? Porque levaram o meu Senhor, respondeu, e
não sei onde O puseram (Jo 20, 12-13).
Primeiro Prelúdio. A Santíssima Virgem exprime a
sua dor com calma em casa de S. João. Madalena, mais agitada, corre a
comprar perfumes e vai ao sepulcro.
Segundo Prelúdio. luto, compaixão e amor, tais são
as disposições de que devo penetrar-me hoje para cumprir a minha missão
de discípulo do Sagrado Coração.
PRIMEIRO PONTO: Luto de Maria, de S. João e de
Madalena. - Durante o grande luto do sábado, Maria, os discípulos e as
santas mulheres permaneceram em casa, por causa do Sabbat. «Sabbato
autem siluerunt secundum msndetun» (Lc 23, 56).
Para Maria, havia um outro motivo: Era costume
entre os Judeus que a pessoa mais estreitamente unida ao defunto, a sua
mãe, a sua esposa, a irmã permanecesse em casa durante o grande luto,
enquanto que os outros membros da família iam visitar o sepulcro. Na
morte de Lázaro, era Madalena que permanecia em casa: Maria autem domi
sedebat(Jo 11, 20).
A casa para Maria, era em casa de João. Tinha-a
tomado consigo por ordem de Nosso Senhor. Ex illa hora accepit eam
discipulus in sua (Jo 19, 27). Pedro também estava lá, não deixava João
naqueles dias.
Nós podemos facilmente pensar que Madalena
permaneceu também junto de Maria. Unidas ao pé da cruz, estavam unidas
no luto. A presença de Maria adoçava o luto de Madalena. A presença de
Madalena, que tinha sido toda regada pelo sangue de Jesus, era para
Maria como um resto de Jesus mesmo.
Maria abandona-se menos à dor do que Madalena. A sua fé não lhe deixa perder de vista os ensinamentos da Escritura.
Ela sabe que a alma santa de Jesus não será
abandonada nos infernos e que Deus não permitirá que o corpo do Santo
conheça a corrupção: Quoniam non derelinques animam meam in inferno, nec
dabis Sanctum tuum videre corruptionem (SI 15, 9). /371
Ela espera a sua próxima visita. Medita sobre a
grandeza do sacrifício e do amor de Jesus e sobre os felizes frutos que a
sua Paixão há-de produzir: Conservabat omnia verba hoc in corde suo (Lc
2, 19).
SEGUNDO PONTO: Amor e fidelidade de Maria. -
Madalena ela também nos dá um grande exemplo de fidelidade e de
perseverança no amor de Nosso Senhor. Ela não tem repouso, não pode
viver longe do seu Bem-Amado. Faz-lhe falta o seu Deus, procurá-lo-á. O
seu tesouro está no sepulcro, lá também está o seu coração. As provações
não extinguiram as chamas do seu amor: Aquae multae non potuerunt
extinguere caritatem (Cant. 8).
o seu amor foi purificado no cadinho dos
sofrimentos. É preciso que a sua fidelidade reduplique: o seu Bem-Amado
foi tão cruelmente traído, abandonado! É preciso que a sua dedicação
seja verdadeiramente reparadora.
Logo que a lei de Deus o permite, sai com as outras
duas Maria para comprar perfumes (Mc 16, 1). Por modéstia, não sai
sozinha, consulta Pedro, João e Maria, como lhes irá prestar contas
quando tiver encontrado o túmulo vazio. A obediência à Igreja e a união a
Maria são as marcas do verdadeiro espírito de Deus. Depois da compra
dos perfumes, Madalena faz uma visita ao sepulcro com uma só companhia:
Vespere autem sabbati, venit cum altera Maria
videre sepulcrum (Mt 28, 1). Toma o caminho do Calvário, ainda é escuro,
revê em espírito todas as cenas da sexta-feira. Tem medo de pisar aos
pés o precioso sangue. A cruz está ainda lá, é terrível no meio das
sombras da noite. O sepulcro está solitário, os guardas dormitam.
Madalena sentase e chora. A hora da consolação não chegou. Nosso Senhor
deixa-a nas suas angústias e, todavia, fortifica a sua coragem. Volta
para a casa de dor, não encontrou o seu Bem-Amado: Per noctem quaesivi
quem diligit anima mea. Quaesivi et non inveni (Cant 3, 2). - Quando
tivermos perdido a presença de Nosso Senhor, procuremo-lo assiduamente
como Madalena.
TERCEIRO PONTO: Ardor de Madalena e as suas
provações. - O coração amante de Madalena não conhece nem atraso nem
desânimo. Logo que isto é possível: Valde mane, valde diluculo, cum
adhuc tenebrae essent (Mc, Lc, Jo), Madalena sai com as outras duas
Marias para voltar ao Calvário. Ela adianta-se, corre. Como o esposo dos
Cânticos, ela disse: «Leventer-me-ei de noite e percorrerei a cidade;
nas ruas, nas praças públicas procurarei aquele que o meu coração ama.
Perguntarei aos guardas das portas da cidade: Não o vistes por acaso»?
(Cant 3, 1).
Durante esta noite, ela dizia com o Salmista: «A
minha alma suspira por vós, ó meu Deus, como o veado sedento pela água
das fontes. Quando vos tornarei a ver, Ó meu Deus? Quando hei-de
comparecer diante da vossa face? Enquanto derramo lágrimas
inextinguíveis, os meus inimigos riem-se e dizem-me: Onde está o teu
Deus? ... Ó minha alma, espera mesmo assim, porque ainda o hás-de
louvar, o teu Senhor e o teu Deus» (SI 41).
Mas Nosso Senhor quer provar ainda mais a sua fidelidade e a sua constância.
Chegando ao Calvário, Madalena vê que a pedra foi
retirada e que o sepulcro está vazio. Não pensava na ressurreição,
procurava o corpo magoado e dilacerado do seu Salvador para lhe prestar o
piedoso dever de uma sepultura digna dele. Mesmo esta esperança é
desenganada. Não lhe resta mais nada senão chorar pelo seu Jesus! É como
se fosse fulminada. Todavia, ela não sucumbe à sua dor, adora,
humilha-se, recorda-se dos seus pecados que justificam esta privação do
seu Jesus, do seu Salvador bem-amado.
Resoluções. - Maria, João, Madalena e as santas
mulheres são os nossos modelos nesta jornada de compaixão e de
reparação. São os únicos amigos fiéis do Coração de Jesus. Unir-me-ei a
eles hoje e todos os dias. Procurarei o meu Jesus como Madalena, todas
as vezes que tiver perdido a sua presença sensível. Não desanimarei
nunca na minha fé, na minha confiança e no meu amor.
Colóquio com Maria.
(Leão Dehon, OSP 3, p. 370ss. Tradução do Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ)